The...end?

Ela tinha certeza que tudo seria um inferno, pelo menos para ela. Já podia sentir aquele conhecido frio na barriga se formando novamente.
No caminho para a escola ela havia repassado mil vezes as falas muito bem ensaiadas na frente do espelho na noite anterior, clichês bataros, em sua maioria, pois ela não tinha uma mente muito criativa para esse tipo de assunto. Tinha imaginado cada pausa, cada vírgula, cada suspiro e reação que seriam necessárias para aquela situação.
Ela não tinha a menor ideia de como conseguiria dispensá-lo.
Sim... pode até ser que fosse meio idiota estar nervosa por causa disso, afinal, não devia ser tão dificil como ela o estava tornando, mas... alguma coisa... alguma coisa que ela conhecia e entendia muito bem tornava tudo tão complexo.
E também tinha o medo... medo de magoá-lo, medo de que eles nunca mais se falassem depois disso... medo de que talvez não fosse isso o certo a fazer.
Ao chegar na escola, as pessoas logo percebiam que algo estava errado, aquela atmosfera densa envolta daquela doce menina não estava no lugar certo. Ela é claro, estava com os nervos a flor da pele a essa altura, já que dali a alguns minutos ele chegaria... Ele... ele e toda a sua majestade, ele e toda a sua beleza invejavel, ele e tudo o que qualquer mortal em sã consciência desejaria ter para si, só para si, e ela o despensaria em alguns minutos. Ela própria não acreditava que realmente faria isso, mas... mas... se ela não o fisesse... oh Deus... só ela sabe o que podia acontecer a ele, e ela estava disposta a protege-lo de qualquer forma, nem que isso custasse o fim de seu amor por ele.

Prisão

Se ao menos a enchaqueca desistisse de mim por um dia, acho que conseguiria pensar direito. Ter que perder um dia inteirinho por culpa da dor não é uma coisa legal... ainda mais quando se sabe que, ao melhorar, os problemas voltarão... acho que só de saber disso a dor aumenta. Queria ter um dia de descanso, longe de tudo, sem precisar pensar em nada, sem preocupações e nem decisões a tomar.
Hoje a noite sei que a dor virá me visitar novamente, sei que terei sonhos ruins, e provavelmente não conseguirei dormir direito.
Amanhã o dia será dificil, depois de uma noite mal dormida, com novas coisas a serem feitas, novas decisões a serem tomadas. Coragem.


Nada bem.

Algo que não fez sentido

O dia havia começado cedo e como em todos os outros dias, o vento la fora soprava irritantemente aos meus ouvidos... pelo menos não estava chovendo... já devo ter mencionado algo sobre meu ódio à dias molhados. Não seria uma semana fácil comparada as semanas solitárias das férias, onde eu podia ficar sozinha com meus pensamentos a qualquer momento... por mais confusos e melancólicos que eles fossem eu me sentia bem em poder tentar entendê-los, sem ninguem pra ficar me olhando e me perguntando de cinco em cinco minutos o que eu tinha, porque concerteza eu não saberia explicar, e a pessoa nunca conseguiria entender.
Quase não toco no café da manhã, já que meu estomago tem a adorável tendencia de ficar embrulhado em trajetos relativamente longos de carro, e a escola não é o que se pode chamar de próxima.
Ao chegar, encontro aquela deliciosa euforia de fim de férias, não porque estamos voltando para escola (óbvio!), mas sim porque agora podemos matar as saudades de um mês passado longe uns dos outros, o ânimo das pessoas, apesar do horário e do frio intenso, era algo palpável, que deixava o dia cinzendo mais colorido para todos. Tudo estava correndo bem, até que ao acaso, eu encontro aquele olhar, aquele olhar que depois de meses eu havia conseguido bloquear em minha memória para que ele fosse apenas mais um na multidão, sem qualquer diferencial...e do nada, sem nenhuma explicação, tudo começa a resurgir dentro de mim... as lembranças, os risos, os momentos... Porquê? Como? Eu tinha trabalhado tão bem pra reprimir tudo aquilo e tinha conseguido tornar tudo indiferente... Já fazia tanto tempo... Eu estava curada, não estava? Mas algo na sua expressão fez com que novamente eu conseguisse sentir algum calor vindo daqueles olhos claros... mas não podia ser verdade, é claro que eu estava inventando aquilo tudo... vai ver era o frio.
Passo o resto das aulas assustada tentando entender o que havia acontecido, fico pensando como tudo seria mais fácil se eu nunca o tivesse conhecido, muitas coisas seriam diferentes hoje, talvez de alguma forma eu conseguisse ser mais feliz, talvez eu conseguisse realmente apreciar a companhia de todos que tenho à minha volta, ou talvez tudo fosse da mesma forma que é hoje... com a única diferença de que eu teria prestado atenção nas aulas e concerteza não estaria pensando nisso.
Quando o sinal toca alguem pára ao meu lado e pergunta o que eu tinha.
É, concerteza não seria uma semana fácil.

Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mais as coisas findas
muito mais que lindas,
estas ficarão

"Memória", de Carlos Drummond de Andrade

Flores Inconstantes.. Tecnologia do Blogger.