Quando a gente realmente gosta.

E então ela o viu. Era mais alto que ela, cabelos lisos, curtos, de um tom castanho mel, pele alva, muito alva, olhos castanhos puxando para o verde, bom porte. "Um conjunto bonito", pensou ela "Mas... um tanto artificial..." completou.

Durante o dia ela o observava, discretamente, era uma bela vista, ela pensava. De vez que quando ele a olhava, de relance, como quem apenas estivesse levando os olhos para passear no ambiente.
Era assim, uma relação inexistente, um nada.
Mas com o tempo o nada foi se transformando. Ela, já não era tão discreta, e ele, demorava-se mais no "passear os olhos".
Era assim, uma relação quase inexistente, um quase nada. Mas que tem o dom sabe que aquela velha frase "os olhos são as janelas da alma" contém um pequeno erro, pois os olhos, na verdade, são as portas da alma. Muito se descobre sobre uma pessoa, quando se tem o dom. E eles tinham.
A cada dia, eles se descobriam, se desvendavam, aprendiam mais um sobre o outro, e gostavam do que viam, ah, como gostavam!
Era assim, uma relação sem palavras, mas que muito conseguia dizer.
Aquela relação inexistente, se transformou de uma forma singela, bonita, mesmo sem palavras, ela já poderia dizer que o conhecia profundamente, cada medo, cada alegria, cada desejo, cada sentimento, e ela sabia que ele também a conhecia, cada canto da sua alma ele já havia explorado.
E ela gostava disso.
Uma relação sem palavras. Uma linda relação sem palavras.
Era diferente, um sentimento que até então ela nunca havia experimentado, e ela estava adorando senti-lo. Não era desejo, cobiça, nem nenhum desses sentimentos fúteis bem conhecidos de toda a humanidade, era algo simples, porém profundo, uma vontade de cuidar, de faze-lo feliz, de proteger. E ela sabia que ele também queria isso, seus olhos lhe falaram.
E então, vieram as palavras.
Ah, como era bom lê-las, ouvi-las!
Tímidas, vindas em frases curtas, palavras simples, de uma forma que lhe agradavam.
E ela gostava mais e mais disso.
Um dia, ela não encontrou o seu olhar. Seu dia não foi o mesmo. Estava triste, nublado apesar do sol. E ela sentiu que algo estava para acontecer. Ela não o via mais todos os dias como antes. passava as manhãs ansiosa, esperando noticias, que não chegavam. Seus dias felizes diminuiram, seu olhar ansiava encontrar o dele, e quando encontravam, ela via que o dele sentia o mesmo.
Ambos ansiavam pelos dias felizes.
E então, ela soube, não por ele, por uma amiga em comum, o porque das suas ausências, o porque da raridade inconveniente de seus dias felizes. No fundo ela já sabia, a alma dele já havia tentado lhe contar, mas talvez a sua não quisesse ter ouvido. Ele não estava bem.
Ela temeu por ele.
Porém, ao contrário do que muitos fariam, seu lindo sentimento desconhecido da humanidade só se fez aumentar a cada dia. Ela ansiava mais e mais poder dele cuidar, poder faze-lo feliz.
E aos poucos, seu dias felizes foram diminuindo, mais e mais.
Quando aconteciam, na maioria das vezes as almas compartilhavam apenas o medo, o medo silencioso que insistia em comparecer.
Eles temiam.
E então, novamente ela soube, não por ele, mas por uma amiga, que seus dias felizes provavelmente não aconteceriam mais. Ele havia piorado, e ela, provavelmente não o veria mais. E seu lindo sentimento só se fazia aumentar...
Restavam então, apenas ler as palavras simples, que eram escritas em poucas horas de algumas noites que ficavam felizes quando ele conversava com ela.
E, mesmo sem poder ver seus olhos, ela conseguia sentir a sua alma, e sabia que ele sentia a dela.
Com o tempo, as horas foram diminuindo, o contato foi ficando mais raro, mais dificil.
Passaram se os meses.
E então, um dia, ela soube o porque de sua alma andar tão triste aparentemente, sem motivo...Ele havia partido. Não haveriam mais dias felizes, nem palavras simples, nem olhares cúmplices, nem almas compartilhadas.
Durante algum tempo, seus dias foram cinzas, ela não pensava em nada, não sentia nada.
Até que ela sentiu a presença dele, a alma dele havia vindo a visitar.
Os dias felizes voltaram. Ela sabia que ele estava bem agora, era apenas isso o que importava.
E ela descobriu, que não importava onde, nem como, eles sempre estariam juntos.

Em memória, W.

1 sonhos:

Unknown 10 de outubro de 2010 às 10:34  

*-*

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